dois irmãos. em lisboa.



estou aqui nesta casa
não há nada que indique quem nela viva
estou aqui nesta casa
neste país
pai
irmão
sem nome
estou aqui sem rastro
como se viver
sem pai fosse ao homem
possível
estou aqui assistindo
de novo
a história parricida
de quem deixou a casa
estou aqui nesta casa
vazia
estou tremendo de frio
num corpo que já não é meu
sentindo a dor
de quem um dia tudo perdeu
estou aqui nesta casa
a ver o impossível
do amor
sem um eu
que seja
um algo
amigo
com quem contar
eram só dois irmãos
como a montanha mais bonita do Rio
era caudaloso e intransponível
a correnteza baixo a perda
como uma pedra
posta assim
entre eles
endurecendo-me as entranhas
desse país sem pátria
estou assim sentida
feito um amor órfão
de destino assassino
estou no alto da torre
aqui nesta casa
a ver o rio
sem esperança
em queda franca
e desajeito dizer
estou aqui nesta casa
exilada
de ti.


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