modos barraca, de viver [10]

natureza morta



queria escrever bonito. a dor, o peixe morto, a palavra arriada, a panela areada, como se diz lá. no meio do coco, o oco, a água doce de oxum e o meu sal vertendo tudo. queria mesmo mudar a prosa do mundo. em direção à. queria ir. e não ficar. ao teu beijo de ontem no meio da praça. queria aquela cartola, a palhoça, a tua fumaça. o rastro do lagarto. o meu corpo réptil. contra o mundo ereto. queria o nado denso. aquele vazio liso, o mar. queria ir arfando o peito. a guerreira do ar. queria mudar o curso. sem história. queria menos inveja. um repouso. a tua rede. a minha tenda. o garfo cravado, na parede. sem lugar. 
isso não era uma casa. era um modo barraca. de viver. era só o instante transeunte que atravessou a estrada. invisível. era um caboclo velho. e de palha. agora queima. e sempre. sempre depois de tudo. arde.

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