un portrait n'est qu'une ruine

Jean Provost


para A.B.

um zumbido doce sem som
um tom de olho mareado
verde escuro
um ângulo rijo
da boca
sedenta e tensa
uma língua soltando-se
longe
tomando o meu extremo
o ponto do que não alcanço
um braço como remo
navega
o inferior
de mim
rijo de tanto dentro
de tanto tudo
de tanto medo
de tanto impossível
rijo de abandono
de amor e de falta
de desejo e de desamparo
de sem dono
de desapego
uma gota
agora no azul
deste único olho
órfão
cego e secreto beijo
ali aberto
desse tudo sujo
do que advém
quando maiores somos
feitos das nossas mais nobres
despossessões
tecidas ao longo de muitos séculos
sem rumo
e sem porto
uma passagem
apenas ela
esse por fim
agora
o fora
de cada um
que nos toma
a tua pele
lisa
por onde deslizo
o meu clitóris
duro
esse emaranhado
onde me digo óbvio
ou louco

dono
ou desertor

pode o acaso
ser o amor?

e a guerra?

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