modos barraca de viver [7]

john it'is a closing time

anselm kiefer

a urgência
dessa chama acesa
no fim da vela
a cera espalhada
o derrame
    existencial
uma conta dos acúmulos
do tempo gasto
e escasso
esse fausto arguto
incorrupto
    o desejo
no queixo da manhã
os dentes banguelas
a placa noturna contendo
os ruídos dos exageros
os dispêndios da vida
esse excesso de marcas
abismando os corpos
os óculos ausentes
a vista cansada
e um já não quero
    ver
nem isso. nem o osso oco do mundo
deixe
        um feixe ainda assim intenso
um fronte
montado. exército pronto. um muro.
o medo já não deveria
a essa altura
         ditar
os nossos impossíveis
escuto-os no silêncio
deito-me sobre o leito vazio
estendo ali o frio
          fino
a manhã enevoada do meu pássaro
sem destino
sinto, mas já não consigo
agarrar
o vento soprado em minha nuca
as tuas mãos grossas
um pelo longo no bico do mamilo
esquerdo
ativo
infringindo códigos. físico-politico-morais.
um ais a menos.
numa jogada lançada
a faca afiada do tempo
sobre os nossos abrigos
antiaéreos
       sem ar
essa dificuldade
em deixar
       que entre e saia
levantando a alça
a calça
insurrectos contra o destino
um beijo apenas
faltou
a palavra doce
toma
cheguei de volta
no enroscar da noite
toma
essa foice que nos corta
separa
toma
o voo negro das penas
toma
sob o verde denso da floresta
toma
a minha águia
   ágora
   do agora toma.

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