modos barraca de viver [4]

dos prazeres do fim do mundo

ruínas do antigo cassino da urca


a ruína, ela mesma, na sua materialidade, 
ergueria uma forma de vida no sentido biológico do termo.
Agnés Lontrade


os pés torcem
poucas vezes sobre o chão
sempre mais lisa
a superfície deslizante
dessas passagens
entre mundos
[esqueça Baudelaire!]
estamos é no museu de Petrópolis
em cada aeroporto
estamos é de chinelos
sem asas
e de distâncias absortas
nelas mesmas.

eu vivia tudo isso ofegando
escavando brechas
em meio ao aberto
a flecha sem sentido
desta atividade.

respirava
um ar desmontado
de jeito sinuoso
de andadura enviesada
essa torsão
o único corpo -
o roto de mim
não
ali desistia-se disso
de existir
e podia-se viver vegetando
como uma nascente
ainda invisível
um verde tênue
no concreto desarmado
as vísceras do duro.

as ruínas não são valores do tempo
mas novos modos do corpo
no des-espaço
um mundano mais que um mundo
uma des-sideração como método
de aprendizado do fundo
do corpo
uma des-coisificação como objeto
criando protuberâncias
de aspereza suave
um galho ou grão.
esse fascínio pela destruição
ou essa vida larvar
esse crepuscular como a vulva-externar
a reentrância como o fora
deixando toda
geometria
toda geo-ondulada
feita de restos -
há um tombamento
específico
no deixar cair dos corpos
não no tempo
nem mesmo neste ou naquele espaço
repito
é a concepção mesma
do espaço
agora des-siderado
que nasce
na ruína
nesse traço
de uma nova biologia-
que ela agora seguia:

[o aprendizado
dos prazeres
do fim
do mundo.]

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