modos barraca de viver [3]

poema de dedos cortados



os dias não são apenas feitos
dessa conta
que singra
ou sangra
a página – a face branda
ou bruta
das cinzas, em regressão rumo ao corpo.
nem do afoito, o gesto
este resto.
o nebuloso começo de tudo.

dias são
a ausência
das horas
o vago precioso tombamento
da noite
na foice do tempo.

foi preciso passar
o vazio
de tudo passar
até a desmedida superficialidade
enfim, fracassar.
com o peso das horas.

e morta entre os teus dentes
de falsos sorrisos
os rios
incontáveis
dobrando-se aos pés descalços do menino.

sem mãe esse tempo
que dura.
o que se diz - todo o resto da vida.
essa contagem esdrúxula
do que finda
a faca no meu peito – já partida

essa mancha
no meio
essa borra
no canto

e os dedos cortados do poema
de amor
pela mulher -
essa fé
trôpega. e sem destino.
quiçá seja isso
a destin-ação. o que se diz - do tempo
do poema
em crástino desatino.

Comentários