a poesia seca
a poesia secou
e chove ao redor
há um mofo diário nas marés da carne
que abriga a minha dor – o seu silêncio
sei que deveria ainda tentar
dizer
mas algo aplaca tão fundo
essa voz – a tua mão
ausente então. de mim
na curva virada do teu olho em mar de sangue.
noutro caminho
por dentro dela – o ruído
partindo a corda
da vida.
já não sei escrever mais os versos longos que me tomavam
o fogo ébrio das horas exangues
as ancas na boca
trotando esse dizer louco
e franco
hoje sou mesmo só o vaguear entre os ossos dos sonsos
dissimulo tudo o que ouço
enterro
e respondo
- já me esqueci de mim
deixei na curva
junto aos corpos que soterro
continuei. no erro.
atormentada. feita da água de quem não vê
e pisa.
errei. quebrada. a hora da tua chegada.
tardia. fria.
doía muito. a traição.
apunhalada
a palavra assim roía
a pedra dura. limava
a faca do matador.
a poesia seca.
e hoje sou o touro.
depois da tourada.
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