livro todo mar [apresentação]

foto de Ana Kiffer - o  mar  gelado
livro todo mar quer traçar uma mesma série de relações sem relação. uma linha feita de heterogêneos. ou mais radical - de separações. relações separadas. o mar como espaço infundado. onde termos que não co-habitam ali encontram-se. um tanto disso que no mar torna-se indiscernível. feito dessa matéria amorfa. desse imenso. desse substrato. invisível. o mar.
a série 1:
o ancestral que vive-a potência do amor-os deslocamentos-os mares do mundo- o marulho incessante em meu ouvido-a loucura-a viagem-o exílio-esse exílio interior-o inxílio-o ferro-o lixo-o coração que ficou frio-a áfrica-o ocidente-os trópicos-os abandonos-as perdas-o canto da sereia-a minha guerreira-iemanjá.

escrever um livro do mar. feito dali. feito dele. para entregá-lo. de novo ao mar. já devia tê-lo escrito. talvez. tenha. tenho em mim cada gota. esse suor contido. e a sua imensidão. incompreendida. tenho também dois livrinhos. um da sophia. outro da marguerite. sempre estiveram aqui. e nos meus pés. e aquela onda. alquebrando o corpo. no mar não há vertical. mesmo no profundo. ando assim. rastejando em terra. desde criança. ondulada. errante. não sei como não pensei antes. em tudo o que escrevo a água ali fazendo a letra boiar. parada. a poeta argentina me disse do rio. do poeta italiano. esqueci o seu nome. entre dois rios. todos os rios naquele livro. escrito. mas sem nome. cheio de nomes perdidos. esse já começa assim. o livro todo mar. com ele. vou me deitar com ele. vou escrever esse livro carregando comigo os outros dois. e os nomes perdidos. o rio sempre encontrará o mar.

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