sobre sobreviver ou como fazer um manual do pensamento colonial
primeiro é preciso partir
de todos. os lugares
do chão. da resma. desse concreto definido em abstrato
sendo o mais difícil.
demore-se mais tempo no exílio. dele
esqueça o nome
o próprio
da tua língua.
pare. de escrever – o mudo do mundo. um momento longo.
mas não conte
o tempo.
não herde nem deixe
que algo de você seja. herdado.
parta novamente. quando for chamado à permanência. oscile. tudo. delire.
não negue. mas invente a negação.
cheia de um sim tão imenso. que tudo nele caiba. o seu contrário.
não dialetize. aterrorize qualquer par. toda tríade.
insiste.
não declare. prefira uma espécie singular – simples.
lembre. o suficiente. a chibata. o lanho na carne. o dente caído. o sangue.
do corpo.
esqueça. tudo. depois.
volte apenas à praça. aonde foi deitado. e a corrente sobre os pés.
descalço. parta. sem papel. nenhum. o sexo como arma de combate.
sim. a violência. sempre que um corpo e outro se tocarem. sinta.
devolva tudo isso. em voltagem. zero.
igual à tudo. sem equação.
a mesma conta. a repetição. a frase. cuspa
na comida a tua fome.
no ódio a alegria. mas não o amor.
nele cuspa fogo. faça queimar. e lamba as chamas.
volte ao rés. troque a resma. esqueça de novo. a língua liminar que cortará cada palavra. encoste nela
a cela dos teus pais. visite. mas não more. não morra.
e dos anos depois de partir
ou do agora mesmo. sobreviva
[à violência que carrega em meu peito
resta como esta aresta. aberta.
este talvegue. navegue nele. no estreito. sempre.
mas nunca encontre o outro lado
o civilizado. o outro. o de mim mesma.
e da experiência.
entenda só. o agora.
o ter que viver com você
e o invivível. da história.]
cuspa o fogo antes de lambê-lo sobre o bando brando.
o em torno. entorne. o caldo. o quente. o calor.
habite as grelhas e desenhe só os fornos.
não entregue nenhum corpo que não o meu para salvar a tua obra.
entenda de novo o mesmo sacrifício tropical.
porque a verdade dura.
e já se sabe que a vida é sempre a morte de alguém.
a tua violência. entenda antonin.
não é porque dela padeço.
volto à você
para devolver a frase. o inaudível.
ouça
como já sabemos.
que a tua vida ainda seria e sempre a morte
sou só alguém.
volto. revolto. revoluto.
para que fique ali daquele lado civilizado do mundo enterrado.
enquanto tento. mesmo em escombros
sobreviver. sem você.
Lindo demais!
ResponderExcluirObrigada Rosane!!!!
ExcluirQuerida, AK, o blogger ta lindo: leve, arejado, intenso. Uma resistência, sem dúvida!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirObrigada Nilson. A leitura de vocês me incentiva e alegra. Agora foi, rsrs
ExcluirEstou absolutamente encantado, professora. Visceralidade e um resistência singular. Um alento em meio ao caos.
ResponderExcluirObrigada Gabriel!!!!!
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